Hoje,
decidi te escrever em forma de carta, não porque seja um desabafo ou exista
maior necessidade de explicar os fatos, não se preocupe é pela simples forma de
acreditar que é o meu possível frente tudo o que vivemos.
Sabe,
ultimamente ando lendo alguns textos que embalam o amor em sentidos tão
semelhantes aos quais vivemos que mesmo parece que foi esse teimoso coração que
se expressou em algum instante de distração. Acredito que talvez você tenha
lido algo também esse tempos, porque eu sei o quanto admiravas a relação
descoberta nas palavras, mas olha eu só não tenho gostado dessa persistência
que algumas pessoas possuem de enquadrar as palavras em molduras velhas, sem
estética ou contemplação de vida. Exatamente! Essas expressões que persistem
nos desencontros de juras eternas, no descaso pelas lágrimas alheias, e no
descrédito com sentimentos que ainda permanecem e fazem questão de serem
engavetados, amassados e jogados em qualquer canto obscuro do armário.
Por
isso te escrevo hoje, não para falar de
mágoas, decepções ou erros, tudo isso é muito fácil de perceber em amores não
correspondidos ou abandonados.Difícil mesmo é agente ver borboletas, contemplar
o brilho onde restou apenas cinzas, rever o arco-íris em um céu recoberto por
nuvens escuras.
A
nossa história teve de tudo isso, mas vou nos permitir lembrar dos doces, do
gostinho de algodão, para sabermos que também existiu um pouco de verdade nessa
brincadeira de faz-de-conta.
Me
deixa começar com as nossas noites de sábado, o bailar pela aurora ao a ouvir a
tua voz; daquela canção que fazíamos sempre questão de lembrar, recorda?. Daquela
saudade permeada pela terna esperança de que o domingo acordava e eu possuía o
teu toque em meus pés, me dando sempre um pouco de chão quando eu precisava, e
porque eu sabia que você estaria sempre ali. É... eu sabia,ou melhor,
acreditava.
Não
que suas habilidades fossem de super-heróis, pelo contrário, como eu descobri
com você a beleza de ser humano. Muito mais que a letra da canção, você me
ensinou a sorrir; a dar as mãos nas noites frias; a ser mais gentil, confesso;
a entender que uma boa conversa é sinônimo de afinidade; que eu sempre
precisarei de um abraço; que o saber vai muito além dos livros; que a gramática
foi impossibilitada de definir saudade, e que as vezes quando a vida exige
precisamos ceder.
É
certo que eu sempre fui brigona mesmo, mas você também sabia como eu adorava o
teu olhar de compreensão, tua paciência, teu jeito de me fazer menina e mulher,
de me dá responsabilidade e me afagar com mimos. Talvez eu sempre quisesse mesmo esse
teu mistério.
Portanto,
hoje eu sussurro um obrigada, não por perceber que o tempo se encarregou de me
fazer mais pacífica, mas porque muito antes eu já havia entendido que detalhes
são difíceis de esquecer, no entanto, agora compreendo ainda melhor que
detalhes são feridas, isso mesmo, feridas que deixam cicatrizes, umas agente
sabe que estão ali, mas mesmo assim nem ligamos; outras não nos deixam esquecer
que um pouco de maquiagem é sempre útil.
Elaine Santana